Os militares da Guarda Nacional Ucraniana ocupam posições no centro de Kiev, após a Rússia ter lançado uma operação militar massiva contra a Ucrânia. Gleb Garanich - Reuters

Um ano de guerra na Ucrânia. Os 12 momentos-chave dos últimos meses

 

Na madrugada de 24 de fevereiro de 2022, a ameaça que pairava a leste concretizou-se e a guerra regressou à Europa. As tropas russas que se acumulavam há vários meses junto à fronteira da Ucrânia tentaram tomar à força o que o presidente Vladimir Putin considera ser parte da Rússia. Desde então, uma guerra que já fez milhões de deslocados e dezenas de milhares de mortos continua sem dar tréguas. Reunimos aqui os momentos-chave do conflito.

 

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A 4 de março, um intenso bombardeamento das forças russas terminou com o controlo da central nuclear de Zaporizhia, a maior de toda a Europa. A tomada da central levantou imediatamente receios sobre um possível desastre nuclear. Pouco depois, porém, a Ucrânia garantiu que os níveis de radiação estavam dentro da normalidade.

Vários líderes mundiais acusaram a Rússia de irresponsabilidade por colocar em risco a segurança de um continente inteiro. Volodymyr Zelensky disse que Moscovo estava a tentar repetir o que aconteceu em Chernobyl em 1986.

Os meses seguintes foram de sucessivos confrontos entre as tropas ucranianas e russas em Zaporizhia. Em agosto, as ações de Moscovo causaram um apagão durante horas na central nuclear e arriscaram um desastre de radiação na Europa.

Em setembro, vários membros da Agência Internacional de Energia Atómica, incluindo o diretor-geral, Rafael Grossi, visitaram as instalações e garantiram que os seus peritos iriam permanecer na central nuclear para uma fiscalização, apesar dos bombardeamentos russos na região. O diretor da AIEA constatou que “a integridade física da central foi violada várias vezes”.

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Desde o início da invasão russa que a cidade de Mariupol foi um dos principais alvos dos russos. Durante meses, a cidade foi atacada e arrasada e praticamente um mês depois do início da invasão, Kiev deu a cidade por perdida para os russos e a 21 de abril Moscovo confirmou ter conquistado a cidade. Deram-se ataques a escolas e a um grande teatro que tinha um abrigo que albergava centenas de pessoas (houve pelo menos 300 mortos).

No entanto, até ter o controlo total da cidade, as forças do Kremlin tiveram de enfrentar membros do batalhão Azov que se barricaram na Azovstal, a metalúrgica da cidade de Mariupol.

Houve corredores humanitários, nunca isentos de críticas, com a Ucrânia a afirmar que os russos estavam a obrigar os ucranianos a irem para a Rússia. Apesar de ter destruído por completo a Azovstal, a fábrica tinha vários túneis subterrâneos com civis e militantes do batalhão Azov que se recusaram durante quase um mês a depor armas.

Depois da retirada de civis da Azovstal os últimos combatentes renderam-se às forças russas a 20 de maio de 2022. Muitas organizações humanitárias acreditam que o cerco à cidade de Mariupol levou à morte de, pelo menos, dez mil pessoas.

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No princípio de abril de 2022, a Ucrânia mostrou ao mundo o que aconteceu em Bucha. Durante o mês de março, a cidade dos arredores de Kiev foi invadida por forças russas e o rasto deixado pelo invasor deixou a comunidade internacional horrorizada.

Zelensky prontamente apelidou os militares russos de “assassinos, carrascos e violadores” e instou os vários líderes do Ocidente a visitar Bucha. A Rússia acusou a Ucrânia de encenação. As imagens mostraram o horror que os habitantes passaram, muitos deles torturados e executados, deixados nas ruas após a fuga russa. No fim das contas, foram encontrados mais de 400 corpos em valas comuns.

Depois de Bucha, seguiram-se Borodyanka, Irpin e Izium. Em setembro, as forças ucranianas conseguiram expulsar o invasor de Kharkiv e em Izium e voltaram a encontrar indícios de crimes de guerra, com centenas de pessoas mortas nas ruas e com sinais de tortura. Novamente, foram encontradas pelo menos 400 pessoas mortas.

O Ocidente acusou Vladimir Putin de crimes de guerra, com a Federação Russa a manter o cenário de encenação ucraniana. António Guterres visitou as cidades devastadas e pediu uma investigação séria ao que aconteceu e muitos investigadores internacionais dizem ter recolhido provas de “crimes de guerra” por parte das forças russas.

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Depois de 50 dias de guerra, Moscovo anunciou que um dos navios porta-estandarte da sua frota tinha sido “gravemente danificado” no Mar Negro. A Ucrânia reivindicou o ataque ao Moskva, navio da era soviética, o que levou a acusações entre as duas partes.

O Moskva era um navio de 186 metros de comprimento. O ataque ucraniano levou à explosão de munições no navio mas a Rússia não quis atribuir a autoria do ataque no Mar Negro à Ucrânia. A tripulação foi retirada e três dias depois do ataque as autoridades russas confirmaram que o navio afundou.

A Ucrânia afirmou logo depois ter atacado com sucesso o Moskva. “Dois mísseis ucranianos Neptune causaram graves danos enquanto guardavam o Mar Negro”, disse o governador da região junto ao Porto de Odessa. Os ucranianos garantiram ter utilizado informação americana para realizar o ataque mas o Pentágono cedo negou ter tido algum envolvimento na situação.

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A invasão da Ucrânia por parte da Rússia conseguiu quebrar uma das maiores tradições de política externa da Finlândia da Suécia. Os dois países sempre tiveram uma política de neutralidade e não-alinhamento. No entanto, a agressão russa na Ucrânia mudou a perceção de segurança de suecos e finlandeses.

No dia 18 de maio de 2022, Klaus Korhonen e Axel Wernhoff, embaixadores da Finlândia e Suécia na NATO, entregaram as candidaturas dos dois países a Jens Stoltenberg que falou num “passo histórico”, assegurando que esta adesão “vai aumentar a nossa segurança partilhada”.

No entanto, o processo de entrada ainda prossegue e os dois países nórdicos continuam a encontrar barreiras na adesão à NATO. A Turquia, membro da NATO, não concorda com a entrada de Finlândia e Suécia na Aliança Atlântica. Recep Tayyip Erdogan acusa os dois países de serem “abrigo” para organizações terroristas, como o PKK, Partido dos Trabalhadores do Curdistão.

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Depois de, no final de fevereiro, a Ucrânia ter formalizado o pedido de adesão à União Europeia, a 24 de junho Bruxelas atribuiu a esse país e à Moldova o estatuto de candidatos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, falou num momento decisivo e num dia “muito bom para a Europa”.

Já o presidente ucraniano considerou a decisão dos 27 Estados-membros uma das mais importantes para a Ucrânia no período de 30 anos de independência do país. “Acredito que a bandeira da União Europeia estará em todas as cidades ucranianas que ainda temos de libertar da ocupação da Federação Russa. As bandeiras da União Europeia e da Ucrânia vão estar juntas quando reconstruirmos o nosso país depois desta guerra”, disse então Volodymyr Zelensky.

O primeiro-ministro português reagiu à atribuição do estatuto de candidato a Kiev com cautela, lembrando que "constitui uma enorme responsabilidade para a União Europeia de não criar falsas expectativas, de não gerar frustrações que necessariamente serão um amargo futuro na nossa relação".

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Em junho, a Gazprom – maior empresa de energia da Rússia – reduziu para 40 por cento da capacidade total o abastecimento de gás através do Nord Stream 1, o maior gasoduto russo de fornecimento de gás à Europa (especialmente à Alemanha).

A 31 de agosto, Moscovo anuncia pela segunda vez em dois meses a suspensão das operações do Nord Stream 1, dando como justificação trabalhos de manutenção. Em setembro foram detetadas várias fugas nas condutas do gasoduto, situação encarada pela União Europeia e pela NATO como um ato de sabotagem.

Mas as polémicas em torno do gasoduto não ficaram por aí. Ainda em setembro, quatro explosões que até hoje não foram reivindicadas atingiram tanto o Nord Stream 1 como o Nord Stream 2, provocando fugas de gás natural no Mar Báltico. A Rússia culpou o Ocidente, que por sua vez insistiu em investigações que provassem a sabotagem por Moscovo.

Em novembro, foram detetadas no Nord Stream 1 crateras de origem não natural.

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Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia. Quatro pontos nevrálgicos da luta russa e que foram, por muitas vezes, os alvos preferenciais dos ataques da Federação Russa na Ucrânia. A 20 de setembro, separatistas pró-russos anunciaram que estavam prestes a realizar referendos para integrar os quatro territórios na Rússia.

Num processo muito acelerado, as consultas populares foram realizadas enquanto as forças ucranianas tentavam reconquistar os territórios do Donbass, Kherson e Zaporizhia. Num processo pouco transparente, o apoio à anexação das regiões terá ficado entre os 87 e os 99 por cento.

Sem apoio ou concordância da comunidade internacional, Vladimir Putin anunciou, a 30 de setembro de 2022, anexação de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia à Federação Russa. Num espetáculo de cantoria e pirotecnia, Putin deu as boas-vindas aos “novos” cidadãos russos. Com esta decisão, Moscovo anunciou a anexação, de forma ilegal, cerca de 15 por cento do território ucraniano, ainda que sem o controlo da totalidade destas regiões.

Depois de promulgada a decisão de Vladimir Putin, Zelensky respondeu com um pedido imediato de adesão da Ucrânia à NATO e colocou fim a qualquer tipo de negociação com Moscovo.

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A 8 de outubro, uma explosão na ponte que liga a Rússia continental à Península da Crimeia causou o colapso de um segmento e provocou três mortos. Imagens recolhidas no local mostravam um comboio-cisterna consumido por chamas.

Na altura, um assessor presidencial ucraniano considerou a explosão e o incêndio na ponte um "começo", sem reivindicar diretamente a responsabilidade ucraniana. "Tudo o que é ilegal deve ser destruído, tudo o que é roubado deve ser devolvido à Ucrânia, tudo o que é ocupado pela Rússia deve ser expulso", escreveu Mykhailo Podolyak.

As autoridades russas abriram um inquérito criminal e, mesmo sem comprovarem a autoria de Kiev, retaliaram com o disparo de dezenas de mísseis contra mais de uma dezena de cidades ucranianas.

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Pouco depois do início da invasão, uma das primeiras cidades a cair nas mãos dos russos foi Kherson. Zelensky não aceitou, a população de Kherson tentou resistir mas as forças do Kremlin conseguiram o controlo da cidade a 15 de março.

Tentando normalizar a vida em Kherson, Vladimir Putin proclamou a independência da região de Kherson do território ucraniano e a 30 de setembro anunciou que esta seria um dos quatro territórios a serem anexados à Federação Russa.

No entanto, as forças ucranianas contra-atacaram e no princípio de novembro começaram a ganhar terreno aos russos conquistando várias localidades. A 11 de novembro, os russos retiraram-se à pressa de Kherson e os militares ucranianos voltaram a hastear a bandeira da Ucrânia na cidade, num evento que juntou centenas de ucranianos que festejaram o regresso de Kherson para as mãos de Kiev.

Zelensky prontamente visitou o local para assinalar a vitória ucraniana e acusou novamente os russos de terem praticado vários crimes de guerra em Kherson.

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A 15 de novembro, um membro dos serviços de inteligência dos Estados Unidos avançou que um míssil de presumível fabrico russo tinha atravessado a fronteira da Ucrânia com a Polónia, matando duas pessoas nesse país, membro da NATO.

Um dia depois, tanto a Polónia como a NATO admitiram que o incidente tinha provavelmente sido causado por um míssil de defesa aérea ucraniano para defender o seu território, numa altura em que este era alvo de intensos ataques por parte da Rússia. Kiev negou a autoria do disparo.

A investigação ao incidente continua em curso.

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Quase um ano depois do início da guerra, a 25 de janeiro de 2023, após vários meses de hesitação, a Alemanha dá luz verde ao envio de tanques Leopard 2 à Ucrânia. A Rússia reagiu rapidamente, alertando que o Governo alemão estava a negar a "responsabilidade histórica" e a escalar o conflito ao reforçar o apoio miliar a Kiev.

No mesmo dia, vários outros países que aguardavam a decisão de Berlim decidiram também enviar tanques Leopard, de fabrico alemão. Os Estados Unidos anunciaram, por sua vez, o envio de 31 veículos Abrams M1. “Esta não é uma ameaça ofensiva contra a Rússia”, garantiu o presidente Joe Biden, sublinhando que o objetivo é “ajudar a Ucrânia a defender a sua soberania e integridade territorial”.

Em Portugal, António Costa confirmou no início deste mês de fevereiro que também serão enviados tanques Leopard 2 a Kiev, acrescentando que está a ser negociada com a Alemanha a recuperação de blindados inoperacionais.